LEITURA E COMPREENSÃO:
LER PARA CONSTRUIR CONHECIMENTO(S)

Inserido em 2009-11-02  |  Adicionar Comentário
1. Os resultados dos alunos portugueses nos estudos internacionais de literacia não são, como é geralmente sabido, bons. Quando se trata de perguntas sobre textos narrativos que versam a identificação do estatuto das personagens, a identificação de espaços, entre outras de âmbito narratológico, os alunos portugueses obtêm resultados aceitáveis. Contudo, na leitura de textos de carácter informativo os resultados são fracos.

2. O novo programa de Português para o ensino básico apresenta um domínio designado Ler para construir conhecimento(s), ao qual se associam descritores que, a serem treinados na sala de aula, muito podem contribuir para um efectivo desenvolvimento da competência de compreensão de leitura. As notas relativas
a estes descritores devem ser tidas, em muito, em conta para se atingir esse
objectivo.

3. Desses descritores, chamamos a atenção para alguns, lembrando desde já que os descritores podem ser lidos na íntegra mas também seccionados:

a) «seleccionar informação»;
b) «identificar temas e ideias principais»;
c) «fazer inferências e deduções»;
d) «distinguir facto de opinião»;
e) «identificar recursos linguísticos utilizados»;
f) «identificar relações intratextuais».

Relativamente a este último, a nota 5 remete para o CEL: «análise de marcas linguísticas específicas (processos anafóricos, marcadores temporais, operadores lógicos e argumentativos, esquema dos tempos verbais, deícticos…); análise de relações parte/todo, causa/consequência, genérico/específico, etc.».

4. Pensamos que a generalidade dos colegas do 3.º ciclo admitirá que estas abordagens dos textos têm pouca expressão na aula de Português. E admitirá também que nem sempre o CEL é leccionado ao serviço do desenvolvimento da competência de compreensão de leitura. É assunto estudado pela investigação universitária e já aqui referido.

5. Dos aspectos referidos gostaríamos de chamar a atenção para alguns. Para começar:

a) a importância de levar os alunos a saberem distinguir um facto de uma opinião;
b) de os levar a detectar redes referenciais no interior do texto (tantas vezes nos deparamos com alunos incapazes de relacionar pronomes e respectivos antecedentes);
c) de os ensinar a reconhecer «relações intratextuais» como as que os conectores, em geral, possibilitam através de um ensino que integre o estudo do CEL na compreensão de leitura, para que não vejamos uma aluna de 8.º ano escrever «Se fosse, optaria por ir de avião, visto que é um meio de transporte seguro e, além disso, rápido, não iria de modo algum de barco, fico muito mal disposta e, apesar disso, é um transporte que não me inspira confiança.»;
d) de os treinar na leitura analítica, de pormenor, que tanto pode ajudar na construção das inferências, domínio no qual os nossos alunos se mostram muito fracos: num teste de 8.º ano cujo texto referia que alguém tinha «bilhetes para ir ao teatro» e foi ver «Lawrence representar O Rinoceronte de Ionesco», só um aluno foi capaz de dizer quem era Lawrence, quem era Ionesco e o que era O Rinoceronte. Para muitos, O Rinoceronte era um animal cujo dono se chamava Ionesco… Podemos rir, mas se os alunos fossem treinados na leitura analítica, seriam capazes, com base em indícios linguísticos presentes no texto, de lá chegar.

6. Este é um dos desafios mais interessantes que o programa lança aos professores de Português. E aos autores de manuais…


Apresentamos, em anexo e na área “Recursos de Apoio”, dois exemplos práticos para possíveis estratégias de abordagem à compreensão da leitura, no contexto de sala de aula.

Pronuncie-se e envie-nos a sua opinião sobre a pertinência de se aplicarem, na sala de aula e no manual, estratégias didácticas que apoiem o domínio programático Ler para construir conhecimento(s), de acordo com as sugestões de actividades disponibilizadas.

Continuamos a contar com a sua participação!

Considera importante a implementação de estratégias de compreensão da leitura, na sala de aula e no manual, de acordo com os descritores de desempenho previstos no novo Programa para o 3.º ciclo do ensino básico?

- Sim.
- Não.

Participe, enviando-nos os seus comentários e as suas sugestões, usando os links «VOTAR» e «COMENTAR».

A Equipa

Bookmark and Share
Os nossos alunos estão habituados a trabalhar a leitura selectiva. Talvez a prática utilizada para "Ler para construir conhecimentos" não seja tão rica em diferentes estratégias como as que vejo indicadas pela vossa equipa. Assim, é gratificante ter um manual que indique ao professor diferentes actividades para a compreensão da leitura.Gostaria também de salientar que estas actividades devem ter diferentes graus de dificuldade pelo facto de termos na sala de aula diferentes ritmos de aprendizagem. Será interessante partir de exercícios de grau de dificuldade mais baixo e ir conseguindo chegar a patamares mais altos.